Tenho paralisia
cerebral desde o nascimento. Sou dependente das atividades diárias, o que
significa que não me alimento por conta própria, nem me deito e muito menos vou
ao banheiro com minhas pernas. Porém, ainda assim, sou adaptada às minhas
limitações. Sempre tive minha própria maneira de resolver coisas simples como:
ligar computador, televisão, radio, pegar livro, lápis, folha, arrumar as
gavetas, o armário, meu material para estudar, tirar as coisas do meu caminho
etc. Tudo isso com os pés. Não gosto de esperar, uma vez que já tenho
que esperar para comer, tomar banho, etc.
Minha vida é
próxima do "normal", estou terminando a faculdade, trabalho e namoro.
Achei que era imune a qualquer tipo de limitação além da qual já tinha,mas
estava errada.
No meio do ano
passado comecei a senti uma dor no ombro. Após alguns meses a dor persistia e
decidi ir ao médico e em dezembro de 2012 fui fazer hidroterapia por
orientações médicas. Um dia antes da minha primeira sessão sai com minha mãe e
senti uma leve dificuldade ao entrar no carro. Duas semanas depois estava com formigamento
nas pernas e minha força se diluía progressivamente. Meu desespero começou. Eu
costumava chorar, com medo de perder minha pequena autonomia. No início, os
médicos acharam que minha paralisia
cerebral estava sofrendo alguma alteração no padrão, mas eu sentia que tinha
algo além. Continuei tentando fazer minhas atividades, na esperança de não
perder mais os movimentos, porém todo meu esforço era em vão, pois piorava dia
a e os médicos não forneciam um diagnóstico preciso. Nunca havia me sentido incapaz.
Pela primeira vez me senti dessa forma. Perdi a capacidade de mover minhas
pernas bem como meu equilíbrio, e com isso, meus pensamentos giravam em torno
da vida que tinha conquistado e chorava pois tinha perdido a perspectiva do que
fazer dali em diante. Eu Teria que me readaptar e aprender um modo diferente de
viver, pois não conseguia usar o computador, desenhar,enfim, me via incapaz de
fazer algo além de olhar para o teto e esperar a vida acabar.
No início deste
ano um médico atencioso, já mais velho, disse que eu poderia estar com um
processo de compressão da medula. Após alguns exames foi constatado que eu
tinha uma hérnia de disco no pescoço. A hérnia fui causada pela minha
movimentação de cabeça, a qual é muita brusca por causa da paralisia. Em
fevereiro fiz minha primeira cirurgia. Em meus pensamentos, o medo e a
incerteza competiam com a esperança de melhora. Logo após a cirurgia conseguir
levantar a perna e ainda estou me recuperando.
Minha família, meus amigos e meus colegas de
faculdade acostumaram a não ter que me ajudar a fazer coisas tais como me levar
aos lugares, ligar a televisão e o computador, etc. Todos se esquecem por um
momento que não tenho a mesma autonomia. Ainda não se sabe se vou ficar com
lesão na medula, pois, até agora, apesar de ter recuperado grande parte dos
meus movimentos, ainda não me recuperei por completo. Ao final dessa
experiência eu tive que readaptar meu modo de fazer as coisas. Aprendi a
esperar e a ter paciência de ficar parada. Meu modo de pensar e ver as coisas
mudou totalmente e agora valorizo muito mais meu estilo de vida.
Este texto foi publicado na Revista Destinos 2014!